Sandoval Avelino de Oliveira, popular Dodô, é um exemplo para muitas pessoas, não só pela sua capacidade empreendedora, mas também por sua forte determinação e fé. Enquanto muitos não conseguem se reerguer depois de uma forte queda, Dodô, mais de uma vez, recomeçou quase do zero, enfrentando todos os obstáculos e se saindo vitorioso.
Nasceu em Gentio do Ouro, terra de Corino
Vitório de Oliveira, seu pai e de Arminda Avelino de Oliveira, sua mãe. Ali
viveu uma vida padronizada, com pouco dinheiro, principalmente depois da
falência do comércio do pai, deixando-os em uma péssima situação financeira.
Depois
do fracasso do primeiro comércio, Corino ainda teve ânimo para colocar outro,
desta vez para a venda de gêneros alimentícios, mas não tinha vontade de
trabalhar atrás de um balcão. Entregou aos filhos, Dodô e irmão, a
responsabilidade de cuidar da empresa.
Aos
14 anos de idade, Dodô começou a trabalhar como vendedor de água, lenha e bode,
em Gentio do Ouro. Cheio de energia e disposição para o trabalho enfrentava as
dificuldades do dia a dia e o cansaço advindo deste tipo de atividade, porque
tinha um objetivo em mente: juntar algum dinheiro e conseguir ser alguém na
vida.
“Comecei
a trabalhar cedo, porque já tinha aquela vontade doida de ter as coisas. Queria
trabalhar muito, para no futuro ter alguma coisa, pois para a pessoa ter alguma
coisa na vida tem que tentar”.
Montava em um jumento e andava seis quilômetros, carregando quatro carotes de água, para o Sr. Turíbio Santos. Dois carotes deixava na casa de sua mãe e outros dois vendia para pessoas de maior poder aquisitivo, entre as quais Isaías Silva, que veio a ser seu empregado, em Xique-Xique, carregando água para ele nos períodos de seca.
Pouco
tempo depois, além da água, lenha e bode, passou também a vender o leite que
era tirado das vacas que seu pai criava.
No
ano de 1952 até 1955, começou a frequentar os garimpos, indo com uma capanga e
um martelo, procurando cristal. Algumas vezes conseguia e vendia para seu irmão
mais velho, obtendo algum lucro. Ficava satisfeito, pois estava fazendo o que
mais gostava: trabalhar.
Mas
para trabalhar na profissão de capangueiro ou faiscador, caminhava 9 quilômetros para
chegar ao garimpo, na mina de Sinhorim e mais 9 para voltar a sua casa, 18 quilômetros,
todos os dias e conseguiu juntar algum dinheiro e planejar negócios mais
lucrativos.
Ao
completar 21 anos de idade, cheio de vontade de trabalhar, prosperar na vida,
percebeu que em Gentio do Ouro não tinha futuro para ele. Assim, em 1957,
partiu para Xique-Xique. Chegando lá, pegou um vapor e passou 11 dias viajando
até chegar a Pirapora, Minas Gerais. Depois pegou um trem Maria Fumaça
até Belo Horizonte, e mais outro trem até a Estação D. Pedro II, no Rio de
Janeiro.
Achou
que encontraria emprego no Rio de Janeiro, pois tinha uns primos morando lá e
isso facilitaria. Mas não encontrou e decidiu voltar para o sertão, deixando lá
Arnon Chagas.
Soube
que tinha um caminhão em
São Cristóvão que carregava a revista Cruzeiro para Campina
Grande e cobrava 100 cruzeiros, naquela época. Foi procurar e lhe disseram que
no dia 30, daquele mês, dois rapazes chegariam com um caminhão e voltariam para
Feira de Santana.
Dias
depois, chegou a Feira de Santana, após uma longa viagem do Rio de Janeiro até
aquela cidade. Ficou ali, na expectativa de encontrar algum transporte de
volta. Por sorte, encontrou com Genário, de Ibititá, o qual lhe disse: “Eu lhe
levo até Ibititá, chegando lá a gente ajeita”.
Viajou
de volta para o sertão, em companhia de Genário. Logo que chegaram a Ibititá,
Genário ligou para o correio de Ibipeba e conversou com Turíbio Santos, o então
prefeito de Gentio do Ouro, o qual lhe pediu que arranjasse um cavalo para
Dodô, para que ele viajasse até Lagoa Grande, onde se encontraria com ele.
Chegando
a Lagoa Grande, Dodô encontrou-se com Turíbio e viajou de Jipe, junto com ele,
até Gentio do Ouro, aonde chegou em 15 de abril de 1957, permanecendo lá, quase
um ano.
A mudança, o concurso e a morte do pai
Dodô
e seus irmãos foram morar na cidade de Xique-Xique, em março de 1958, deixando
o pai e a mãe em Gentio do Ouro. Tempos depois, Dona Arminda Avelino de
Oliveira também mudou para Xique-Xique.
Trabalhou
um ano por conta própria e decidiu enfrentar um concurso estadual para
preenchimento de vagas para coletor. Era um emprego bom ligado ao governo do
estado. Achava que passaria.
Zé
de Agrário, seu primo, que era dono de um caminhão, ao saber que eles, Dodô,
Nonô e Vanderlino Rocha iriam fazer o concurso, ofereceu-lhes carona no
caminhão, até Feira de Santana e eles aceitaram. Saíram de Gentio do Ouro,
chegaram a Ibipeba, depois a Canarana. Viajaram em cima da carroceria do
caminhão e após dois longos dias de viagem cansativa chegaram a Feira de
Santana. Lá Dodô pegou um ônibus para Salvador, onde fez o concurso. Percebeu que
não tinha chance, porque lia pouco: “Não tinha feito o ginásio, estava apenas
começando. Aí eu incuti que queria o emprego. Estava doido por um emprego a
qualquer custo fui fazer o concurso”.
Em
vez de se desanimar com a derrota do concurso, decidiu que era hora de voltar a
estudar. Matriculou-se no ginásio do Senhor do Bonfim, fazendo o curso a noite
e trabalhando durante o dia.
Cinco
anos depois de sua mudança para Xique-Xique, Dodô conheceu a professora Reni
Maçal de Oliveira e se casou com ela. Tratava-se de uma professora, que já
exercia a profissão há 3 anos, chegando a ser diretora de um colégio.
“Casei
em 25 de maio de 1963 e tive muita sorte em minha vida ao lado de minha mulher,
que sempre confiou plenamente em mim, dando-me liberdade para fazer o que
queria, vender, comprar”.
Corino
que ficou sozinho em Gentio do Ouro, durante algum tempo, deixou aquele lugar e
mudou-se para Xique-Xique, ficando perto da esposa e filhos. Faleceu naquela
cidade, em 30/11/1971.
Primeiros estabelecimentos comerciais
Dodô
conseguiu juntar a maior parte do dinheiro que ganhou vendendo várias coisas.
Surgiu então a oportunidade de comprar uma bodega, em sociedade com Arnon
Chagas. Era pequena e tinha uma sinuca. Ele ficou tomando conta, em Gentio do
Ouro, até março de 1958.
Recebeu
então o convite de Mano, seu irmão, que comprou uma loja em Xique-Xique, e o
queria como sócio.
Durante
a viagem, Dodô passou por Gameleira e ficou hospedado na pensão de dona
Arminda. Foi visitar alguns parentes e amigos e se encontrou com Lívia, uma
moça de família rica. Falou com ela de seus planos de montar negócio em
Xique-Xique e ela perguntou quanto ele tinha de dinheiro para isso.
Dodô
disse que tinha 100 contos, mas na realidade só tinha 30 contos. Lívia riu
bastante dele e disse: “Tá pensando que com 100 contos dá para você botar um
comércio em Xique-Xique? Você está enganado!”. Mas Dodô disse para ela: “Eu vou
para lá lutar, Lívia”.
Dodô
sempre foi um homem de luta, uma pessoa cheia de autoconfiança e do desejo de
vencer: “Se você pensar que vai ter alguma coisa na vida e conservar o
pensamento que vai ter, você vai acabar tendo. O que vale na vida é o pensamento”.
“Eu
ia levando a vida sabendo que futuramente teria alguma coisa e realmente tô
dando emprego, tenho alguma coisa”.
Tempos
depois, Cicinato convidou Mano e Dodô, para botarem uma sociedade, em
Xique-Xique, que se chamaria Irmãos Oliveira: “A sociedade durou até 1968 e
acabou porque eles achavam que eu viajava muito e não trabalhava. Mas eu tinha
muita independência e queria administrar meu negócio por conta própria”.
Um
irmão questionou: “como vamos dividir?” e Dodô disse: “tudo que tem 3 divide
por 3. Dinheiro geralmente não tinha, porque o capital era pouco, então
dividimos a mercadoria”.
Dodô
estava sozinho. Surgiu a oportunidade de comprar de Santino, em 1974, uma casa
que ele tem até hoje, na esquina da antiga Feira das Frutas. Comprou por 30 mil
cruzeiros e instalou um comércio que se chamava Casa Oliveira. Botou como sócio
seu primo Nonô e a esposa dele. A sociedade durou quase dois anos.
“Quando
eu vi que não dava para emprego, entrei no comércio”.
Por
volta de 1978/79, mudou para Irecê e se estabeleceu na Rua Antonio Carlos
Magalhães. Na época, o supermercado já era o maior de Irecê e estava sob a
responsabilidade de Marivaldo.
Morou
alguns meses em Irecê, depois se mudou para Salvador, o que facilitaria o
tratamento médico de uma de suas filhas, mas vinha constantemente a Irecê.
Com
o crescimento do Supermercado Prakasa, decidiu retornar em 1984, comprou uma
casa e ampliou o supermercado.
Carreira política e entidades
Bastante
conhecido em todo o município de Xique-Xique, atuando em diversos segmentos e
ocupando posições destacadas em algumas entidades, Dodô foi eleito vereador de
Xique-Xique, no ano de 1966.
Candidatou-se,
em 1970 e mais uma vez saiu vitorioso, ocupando inclusive a presidência da
Câmara Municipal. Por conta disso, seu grupo político, que sempre foi ligado a
Reinaldo Braga, decidiu lançar um candidato a prefeito, em 1976 e Dodô foi o
escolhido. Foi um período difícil para ele, porque a política brasileira
é marcada por muita exploração. A eleição foi realizada e o adversário ganhou.
Dodô
sempre foi dedicado a tudo que faz e determinado na busca de seus objetivos.
Como homem público foi presidente e secretário da Câmara de Vereadores de
Xique-Xique e Venerável, na maçonaria.
Mas
quando veio morar em Irecê, decidiu se distanciar de todas as atividades
relacionadas à política ou filantropia, passando a cuidar mais de suas
atividades empresariais, o que lhe toma muito tempo.
“Eu
tenho certa cisma com a política. Costumo pensar: É Dodô você não vai dar pra
política não, porque você não acha que o feio é bonito! O feio é feio, o bonito
é bonito, bom é bom e torto é torto”.
Lembrando-se
do passado, Dodô cita políticos que ele admirou muito: Juscelino Kubitscheck e
Getúlio Vargas.
Alternativa para Irecê
“Irecê
é uma cidade que já teve mais futuro. Atualmente, quase todos os políticos
daqui têm deixado muito a desejar”.
Segundo
Dodô, uma das principais alternativas para a região de Irecê é a irrigação,
porque além da água Irecê tem um terreno muito bom.
Mas
para isso, ele vê a necessidade de se trazer água de Xique-Xique para cá, que
poderia chegar aqui através de um canal que teria no máximo 80 quilômetros. A
água do Rio São Francisco seria jogada para o Rio Verde, onde se faria uma
caixa d’água muito alta e de lá viria por gravidade, abastecendo toda a região.
Trata-se de um projeto que não é muito caro, faltando apenas o governo pensar
nisso.
“Eles
botaram o nome Baixio de Irecê, mas não tem nada a ver com Irecê. Se não fosse
a água de Mirorós, o povo estaria sofrendo bastante com a seca. Se não vier a
água de Xique-Xique, os irrigantes vão ficar dependendo da água de poço que
seca nos anos ruins”.
Uma experiência de vida
Convivendo
com pessoas dos mais diversos tipos e enfrentando todo tipo de problemas, Dodô
adquiriu outro tipo de patrimônio, bastante valioso: a experiência. Tem,
portanto, muita coisa para ensinar. Segundo ele, o pensamento exerce grande
influência na vida das pessoas: “O pensamento forte ou o pensamento positivo
atrai as coisas que você quer. O pensamento negativo esparrama tudo”.
Uma
outra lição de vida: “Todo homem tem que ter um bom casamento, pensar no futuro
e em deixar os filhos amparados”.
Teve
um bom casamento com a professora Reni, mãe de seus filhos: Sandoval Junior
(Juniô), Acássia, Katia, que fez doutorado no Canadá e Reinival, que fez
mestrado na Inglaterra.
“O
meu relacionamento com meus filhos é muito bom. Dei a eles estudo e educação: a
moeda de ouro. Em qualquer lugar, se a pessoa é educada, vai viver”.
“O
Junior é uma pessoa responsável. Só precisava de um empurrãozinho”.
Coragem para recomeçar após grande prejuízo
Esta
força para recomeçar sempre, sem nunca desistir de um objetivo traçado, sempre
fez parte da vida de Dodô. E foi graças a esta energia que conseguiu superar os
principais obstáculos de sua vida.
Quando
candidato a prefeito de Xique-Xique, foi bastante explorado, mas conseguiu
superar a isso. Alguns meses depois tomou um prejuízo incalculável, na enchente
de Xique-Xique, nos anos 1978/1979. A água encheu três depósitos de mercadorias
que ele tinha e estragou grande parte delas.
Na
tentativa de salvar algumas coisas, Dodô se viu forçado a transferir o que
sobrara para três localidades diferentes. Rio Verde, Central e Irecê, em um
depósito da Embasa. Sempre apegado à religião católica, desde a época em que
residia em Gentio do Ouro e participava das peregrinações feitas por Dona Ana
Figueiredo Rocha, sua avó, pediu ajuda a Deus e ao menino Jesus, que é o padroeiro
de sua casa, para que o ajudasse a sair daquele sacrifício violento. E com o
passar do tempo, recuperou o que havia perdido.
O Supermercado Prakasa
O
Supermercado Prakasa, empresa fundada em maio de 1981, nasceu da Casa Oliveira,
que comercializava gêneros no ramo atacadista. Nasceu pequeno, com apenas 25 m2, na esquina da antiga
feirinha das frutas de Irecê e vem crescendo junto com a região. Já são 23 anos
de existência e de esforço dos seus dirigentes, no sentido de atender bem os
clientes e trabalhar nos melhores padrões de modernidade.
Atualmente
o Prakasa possui 10 checkout e ocupa uma área de 1.200 metros quadrados.
Comercializa mais de 20 mil itens, atendendo a demanda da região.
A
empresa promove um grande benefício para a região de Irecê, oferecendo o que há
de mais moderno na sua área e empregando dezenas de pessoas. Além disso, cumpre
todas suas obrigações fiscais, pagando os impostos tanto para o município
quanto para o estado.
Sentindo-se
realizado como empreendedor, pois o Prakasa está entre os 10 maiores e melhores
supermercados da Bahia, Dodô ainda tem muitos sonhos e muitas metas a serem
alcançadas. Segundo ele, o sucesso está ao alcance de qualquer pessoa que saiba
traçar seus objetivos e lidar com o dinheiro:
“É
a moda do brasileiro. Ganha 2 e gasta 3, ganha 10 e gasta 12, esquecendo que
tem de pagar as obrigações. É preciso quem ganha algum dinheiro saber dividir,
economizar uma parcela, para investimentos futuros. Eu sempre fiz isso”.
“Uma das coisas mais importantes em nossa vida é a
evolução, esse acúmulo de experiências e conquistas que vamos reunindo com o
passar dos anos. Há 23 anos o PRAKASA cresce e evolui. E todo o nosso
crescimento tem o objetivo de proporcionar aos nossos clientes e amigos, enfim,
à nossa sociedade uma vida melhor, mas prática, mais completa, mais feliz.
Evoluímos. E os frutos dessa evolução são os presentes que oferecemos aos
clientes em retribuição à sua dedicação conosco: um melhor atendimento, uma
loja mais ampla e confortável, facilidade no pagamento e a variedade de
produtos que garante a todos o direito de escolher o que é melhor”.
Fonte: www.jacksonrubem.com.br
Comentários
Postar um comentário