Mestre do verso livre e largo, típico de alguns de
seus poemas mais conhecidos (como "A Flor e a Náusea", "Nosso
Tempo" e "Canto ao Homem do Povo Charlie Chaplin", todos de A Rosa
do Povo, 1945), Drummond também cultivou o verso minimalista, como o
exemplificado abaixo, sobre a Bahia:
BAHIA
"É preciso fazer um poema
sobre a Bahia...
Mas eu nunca fui lá".
Em meia dúzia de palavras ele consegue passar uma idéia grande, com direito a
perplexidade, reflexão e ironia.
Curiosidade a respeito do minipoema "Bahia", acima, é que a mais de
50 anos depois, Drummond publicou um complemento a esse texto, chamado: "O
Poema da Bahia Que Não Foi Escrito", no qual ele lamenta não ter conhecido
a terra de Caymmi. Neste poema Drummond cita Gentio do Ouro. Leia abaixo:
O POEMA DA BAHIA QUE NÃO
FOI ESCRITO
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
(1902 - 1987)
Um dia - faz muito tempo -
achei que era imperativo
fazer um poema sobre a Bahia,
mãe de nós todos, amante
crespa de nós todos.
Mas eu nunca tinha visto,
sentido, pisado, dormido, amado a Bahia.
Ela era para mim um desenho
no atlas,
onde nomes brincavam de me
chamar:
Boninal,
Gentio do
ouro,
Quijingue,
Xiquexique,
Andorinha,
- Vem... me diziam os nomes
ora doce.
- Vem! ora enérgicos
ordenavam.
Não fui.
Deixei fugir a minha
mocidade,
deixei passar o espírito de
viajem,
sem o qual é vão percorrer
as sete partidadas do mundo.
Ou por outra, começei a
viajar por dentro, à minha maneira.
Ainda carece fazer poema
sobre a Bahia?
Não.
A Bahia ficou sendo para
mim
um poema natural
respirável
bebível
comível
sem necessidades de
fonemas.
Referência:
Esse poema está em Amar se
aprende amando . R. de Janeiro: Record, 1985.
Por: Romeu Júnior
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